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"O Valor da quietude"


Na tarde desta terça feira, 13 de agosto de 2019, o Padre Fabio de Melo postou em sua conta no instagram o seguinte texto:

"Tanta gente ensinando a ficar rico, obter sucesso, desenvolver a eloquência, alcançar êxitos... Não vejo problema algum. É necessário ter os que nos retiram da letargia, os que despertam nossos potenciais adormecidos.

Mas confesso sentir falta dos que ensinam o contraponto; o valor do despojamento, da quietude, da pausa, da renúncia aos excessos, da simplicidade e tranquilidade que nos enriquecem bem mais que dinheiro, o sucesso e a fama."

Pe. Fabio de Melo


Quem acompanha o Padre, sabe de sua luta contra a depressão e os ataques de pânico pelos quais passou por um período de sua vida, ao trazer palavras como "quietude" e "simplicidade" demonstra o grau de maturidade existente em sua relação com a doença, a quietude por exemplo em muitos casos de depressão é um sintoma contumaz que pode servir de alerta àqueles que tem suspeita do quadro.


O curto texto carrega consigo uma gama de nuances, por se tratar de uma realidade social e atual. Ainda que o autor seja um religioso, não se limita a este prisma, se trata de um texto opinativo onde o emissor é religioso mas a mensagem não necessariamente é religiosa, o que abre espaço para ampla reflexão. Enquanto Psicólogo me abdicarei das possíveis interpretações religiosas/espirituais, deixando isto a critério do leitor que certamente lerá através de sua própria visão de mundo. A psicologia enquanto ciência se propõe laica o que implica respeito a todas as crenças e também ao direito de não crença.

O texto aborda duas realidades que em algum momento se encontram:

1- A depressão da qual o autor fala por experiencia própria. 2-) cobranças sociais estabelecidas por determinadas correntes de pensamento que emprega um modelo, um estilo de vida que todos aqueles que se pretendem "vencedores" devem seguir à risca. Acordar às 05:00 da manhã para ter rendimentos maiores, praticar atividades físicas, ler um livro motivacional... A lista é imensa, repleta de tarefas que visam "otimizar" o ser humano, dar a ele o seu máximo, em muitos casos recorrendo a medicações como ritalina para dar aquele "diferencial" na execução das atividades.


Esses dois pontos geralmente se encontram, um pode vir a ser consequência do outro, não há de se imaginar que preencher o dia com tarefas, sobretudo tarefas tão exaustivas, que demandam tempo e dedicação integral possam ser realizadas por todas as pessoas, inevitavelmente hora ou outra o indivíduo se verá na situação de fracasso e dado tudo aquilo que aprendeu, fracassar não é uma opção, com isso vem a decepção que pode ser seguida de uma enorme frustração.

Com o advento da revolução tecnológica e uma massa crescente de uma tendência capitalista de empreendedorismo, as pessoas se encontram diante de uma situação paradoxal que prega a união daqueles que são "dignos" ao mesmo tempo que exalta a exclusão de todos aqueles que não "somem" ou ajudem em seus processos de ascensão. Como consequência, podemos observar uma tendência narcísica, aonde o ser investe toda a sua pulsão de vida em si mesmo e mesmo quando investe no outro é para a realização de um desejo próprio o que ao fim teria o mesmo propósito, o da satisfação pessoal em detrimento da vida em sociedade. Logo o paradoxo existente é o da exclusão, perceba; se você deve andar com alguém que esteja "melhor" (e uso todas as aspas do mundo para isso) que você, e se afastar dos que estão pior, logo todos se veriam no isolamento, pois nesta linha quem está embaixo quer andar com o de cima, que não pode andar com o de baixo por estar embaixo, gerando assim um paradoxo.

Neste sentido o texto resume e define em duas palavras a necessidade do "pé no freio", da valorização das coisas simples, da capacidade de reflexão, já que não seria necessário ocupar a cabeça com tantas tarefas quando via de regras, temos dentro de nós tantos pensamentos que em boa parte do tempo são extremamente conflitantes. Aprender a calar a observar, ouvir é um caminho primoroso para um processo de autoconhecimento no qual não necessitamos extirpar pessoas para aprender a lidar consigo mesmo. Um contraponto não só interessante como necessário.

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